Portais Multi Acesso
Um novo ciclo está a começar
 

Os conhecidos portais B2C, apontados como o grande trunfo para vingar nos negócios ligados à economia digital e que estavam para a Internet mais ou menos como os canais de televisão generalistas estavam para a TV, estão agora, face às profundas alterações estruturais que os negócios pertencentes a esta área tem estado a sofrer, em forte reestruturação. Como acontece com muitos produtos ou serviços, o seu ciclo de vida está a chegar ao fim sem terem atingido a rentabilidade prevista. A publicidade, apontada como principal e por vezes única fonte de receitas, já demonstrou ser um modelo falhado. Deste modo e para aproveitar investimentos de base realizados, começam agora a testar-se alternativas que permitam o seu relançamento. Um conceito que vem de modo insistente a ser defendido é o dos portais MAP (Multi Acess Portal).

Por: Joaquim Hortinha in Jornal de Negócios
2001-10-04


O que é um portal MAP? 
Um portal MAP não é mais que um portal que permite o acesso aos mesmos conteúdos e serviços através de diferentes plataformas tecnológicas. A principal vantagem reside no facto de a mesma informação poder ser acedida em qualquer momento e em qualquer lugar. Por exemplo via web através do PC do escritório, em movimento através do dispositivo móvel UMTS ou em casa através da TV Interactiva (iTV). As principais empresas de Marketing Research consideram que dentro de 5 anos os portais MAP irão desempenhar um papel muito importante na vida dos consumidores e reter uma parte significativa da sua 'wallet'.

Quais são os pilares de desenvolvimento dos portais MAP? 
As expectativas dos consumidores crescem exponencialmente. Conceitos como mobilidade, acesso 24 horas e personalização ganham importância. Cada vez mais os consumidores querem aceder à informação em qualquer momento e em qualquer lugar. Os portais MAP vêm satisfazer esta necessidade de conveniência, fornecendo aos utilizadores os serviços que estes querem, no momento e através do dispositivo terminal que estes escolhido. Permitem igualmente oferecer ao utilizador uma proposta única, independentemente do modo de acesso por este utilizado.

Quais as empresas melhor colocadas para utilizar estratégias MAP? 
Os actuais portais B2C, graças à experiência adquirida no ambiente web, são quem se encontra em melhor posição para explorar este novo conceito de negócio. Para além de que só assim conseguirão sobreviver no futuro, retendo os seus actuais clientes, conquistando novos e conseguindo novas fontes de receitas. As estratégias ligadas a portais MAP podem desempenhar um papel vital para alcançar esta autêntica reviravolta, permitindo aumentar a oferta, reduzir o 'churn', entrar em novos mercados e transferir modelos de negócio de sucesso entre diferentes plataformas tecnológicas. A aplicação destas estratégias permitirá certamente ganhar quota de mercado a outros portais e aumentar o 'share of wallet' dos consumidores, ganhando mesmo parte do que antes era gasto offline.

Quem deve investir num portal MAP? 
Os portais MAP exigem investimentos muito elevados, em sistemas de back-office, billing, agregação de conteúdos, pesquisa de marketing, etc, pelo que representam uma decisão arriscada. Recomenda-se fortemente que seja efectuado um estudo profundo antes de avançar. Pode ser preferível actuar como fornecedor dos portais existentes para alguns dos serviços que estes necessitam e deste modo encontrar fontes de receitas alternativas A situação de crise que se vive no sector conduzirá à sobrevivência de um número reduzido de portais B2C, ficando apenas os mais fortes, em geral ligados a grandes operadores de telecomunicações. São estes que vão actuar como fornecedores do mercado, sendo que irão gradualmente acrescentando à sua oferta portais locais e de nicho, por recurso a aquisições, parcerias ou mesmo fornecimento de conteúdos puro e duro. Para as empresas que não estão actualmente no negócio dos portais B2C não é recomendável uma entrada neste mercado, excepto se possuem uma marca de consumo forte ou tenham de facto uma vantagem competitiva duradoura.

Quais são as estratégias para conseguir vencer? 
Só os que tiverem objectivos claros sobre o que pretendem atingir com um portal MAP irão alcançar o sucesso. A marca será o elemento chave, quer em termos da criação de um relacionamento com o utilizador final, quer para ganhar poder de negociação comercial. Deste modo as empresas que tiverem uma forte imagem de marca estarão em vantagem. Quem fizer as primeiras experiências de modo a identificar as aplicações vencedoras estará em vantagem face à concorrência. Diferentes tipos de parcerias serão fundamentais para o sucesso de uma aventura deste tipo, passando pelas diferentes camadas de funcionamento, como sejam tecnologia, redes, conteúdos e serviços. Serão os inovadores, como os fornecedores de conteúdos para PDA, que irão encontrar oportunidades de crescimento. Para os actuais fornecedores dos portais B2C, os portais MAP representam uma grande oportunidade, pois dadas as dificuldades que apresentam, os portais B2C irão considerá-los elementos essenciais na estratégia, aumentando a profundidade da sua relação. Assim estes fornecedores participarão em aspectos como a conectividade, o billing, os sistemas de integração e a gestão de conteúdos e de contextos. Os que melhor conseguirem desenvolver competências nestas áreas irão certamente ficar com a maior fatia das receitas que o sector promete gerar.

Em conclusão podemos afirmar que os portais MAP estão a chegar e encerram, para os diferentes actores ligados aos portais B2C, um conjunto de oportunidades que pode ser a alternativa que estes à muito procuravam, para ganhar a confiança do mercado e conquistar uma fatia mais significativa da 'wallet' dos consumidores.

 


Resumo Curricular do Autor


Joaquim Hortinha, Setembro de 2000

Licenciado em Engenharia Electrotécnica e Computadores pelo IST (Instituto Superior Técnico), MBA pelo ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) e Mestre em Ciências Empresariais pelo ISCTE. Actualmente é Professor do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), onde assegura a docência da disciplina de e-Marketing nos Cursos de Pós-Graduação de Marketing Management e e-Business. Colabora ainda na disciplina de Marketing de Serviços do Mestrado em Ciências Empresariais do ISCTE. Leccionou no MBA de Marketing do CEDEPE no Recife-Brasil e exerceu ainda actividades de docente e consultor/formador no ISCTE, IPAM (Instituto Português de Administração de Marketing), Universidade Lusófona, Fundetec, Grupo Egor, INETI (Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial), Instituto de Merchandising e Editora McGraw-Hill.

Subdirector de Negócios Internet da ONI Telecom, detendo a responsabilidade pelo Marketing e Vendas. Foi anteriormente Marketing Manager do portal Sapo e Director Adjunto de Marketing da TV Cabo Portugal. No seu percurso profissional são ainda de referir a Schneider Electric Portugal, como Marketing Manager e Key Account e a Brisa-AutoEstradas de Portugal, como Coordenador de Projectos. É autor do livro E-Marketing - Um Guia para a Nova Economia, lançado em 29 de Janeiro de 2001, co-autor do livro Marketing Internacional, considerado como livro do ano de 1998 pela revista Executive Digest e autor de diversos artigos de opinião nas áreas de gestão e marketing, publicados quer em jornais e revistas de carácter científico, quer de informação geral. Actualmente tem uma coluna mensal sobre Marketing no Jornal de Negócios, no Suplemento de Negócios & Estratégia. Tem como principais hobbies a Investigação Cientifica e o Golfe.

 

Contacto:
Joaquim Hortinha 
webmaster@e-marketinglab.com

 


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